Portugal dos Pequenitos

Portugal dos Pequenitos

Arquitectura, Coimbra, Portugal

O Novo Edifício de Recepção do Portugal dos Pequenitos situa-se na margem esquerda do Rio Mondego, em Coimbra. Apesar de estar fora da “Alta” e da “Baixa” da cidade, é uma zona caracterizada por um alto grau de monumentalidade, pois além dos Mosteiros e Conventos existem ainda os Paços da Rainha Santa Isabel, a Quinta das Lágrimas e o Portugal dos Pequenitos.

 

O Portugal dos Pequenitos é encomendado em 1937 ao arquitecto Cassiano Branco com localização no Rossio de Santa Clara. O Parque, apesar de ter a sua estrutura autónoma, devia também ser entendido como complementar ao projecto educativo das Casas da Criança, aqui a da Rainha Santa Isabel. Cassiano Branco reconhece a importância da encomenda, entendendo-a como um desafio, pelo seu programa de sentido pedagógico ímpar. O arquitecto chega a lamentar os “valores que se têm perdido, pela desistência de muitos milhares de estudantes, vítimas do professorado incompetente e exigente” na sua memória descritiva do Portugal dos Pequenitos, visionando um “Portugal dos Pequenitos uma biblioteca para as crianças, para ser lida por todos os seus sentidos. (…) Toda a criança o lê com a íntima satisfação de aprender sem esforço; e [era] justamente este aspecto pedagógico, o que a escola natural de Coimbra dos homens não [possuía]”.

Desta forma, afirma ainda na sua memória descritiva que “O Portugal dos Pequenitos não deve ser considerado um museu de miniaturas arquitectónicas de Portugal. Esse julgamento limitaria demasiado a inteligência e cultura dos que tal o considerassem, por não se terem apercebido da feição pedagógica desta obra, inspirada nos métodos preconizados e definidos pelos maiores pedagogos, como Pestalozzi, Froebel, Montossori e outros e executada com o objectivo de ensinar a criança, recreando-a.”

As preocupações do arquitecto iam ao encontro da acção social idealizada por Bissaya Barreto, dando origem a um parque constituído por réplicas, em escala reduzida, de monumentos e edifícios representativos da cultura e património português.

O recinto foi inaugurado a 8 de Junho de 1940, apenas com a construção das casas portuguesas concluída, tendo a Casa da Criança sido inaugurada a 12 de Julho de 1940. Nesse mesmo ano decorre a Exposição do Mundo Português em Lisboa.

 

Portugal dos Pequenitos é um espaço destinado ao retrato etnográfico português, cujo meio de comunicação é a arquitectura.

O conceito do Novo Edifício de Recepção do Portugal dos Pequenitos tem como ponto de partida a própria base da cultura portuguesa – o percurso, a viagem e as descobertas. Tal como o parque convida a este percurso de submersão nas raízes portuguesas, intimamente ligadas ao mar e às descobertas que este possibilitou, identificamos como ponto central da proposta a interpretação da viagem, através de um olhar contemporâneo.

A curiosidade, tão inerente ao povo português, é transposta para este universo através do olhar de uma criança. O Parque simboliza esta viagem de (auto) descoberta do património e essência portuguesa – um mundo sensorial, símbolo das demais dicotomias, interiores e exteriores, de uma descoberta.

Antecipando o universo criativo da criança, pretende-se um edifício que permita o espoletar de inúmeros processos de interpretação, onde poderá depositar empiricamente as suas memórias e criar novas e múltiplas associações. Esta interacção e descoberta existem sobretudo através deste conceito de viagem.

Estável em terra, lança-se com as velas ao vento – o edifício remete para as formas náuticas das embarcações dos Descobrimentos, simboliza o mar, reflecte a diversidade e vontade de não se ancorar à terra, de partir numa viagem.

 

O Novo Edifício de Recepção do Portugal dos Pequenitos é um acréscimo e remate da vivência urbana, evidenciada como uma charneira de tempo/material que promova a área que o circunda.

É do nosso entender que o edifício englobe a forma e o conteúdo, resolvendo os temas programáticos, para criar um discurso com a cidade, transformando a herança deste quarteirão através do espaço público.

A nossa proposta de arranjos exteriores não pretende alterar o desenho do traçado urbano, mas prevê o melhoramento do fluxo viário da zona. O desafio neste projecto é trabalhar em diferentes escalas, garantindo uma linguagem coerente e de elevada sensibilidade, domínio e visão sobre o “maior” e o “menor”. Com atenção ao detalhe, queremos atingir um equilíbrio: uma proposta que se relaciona com o Novo Edifício de Recepção do Portugal dos Pequenitos e que se adapta às questões urbanas envolventes. Tudo se complementa e se relaciona.

Propomos engrandecer uma zona urbana actualmente desvitalizada e torna-la funcional: chamar mais pessoas para esta zona, desenhar uma chegada nobre a um Edifício que fará parte da história de Coimbra e de Portugal.

Desta forma, o desenho do espaço foi feito de uma forma geométrica, com alinhamentos que convidam a caminhar em direcção ao edifício, possibilitando diferentes caminhos e privilegiando as melhores vistas. Queremos que este espaço seja pedonal e convidativo, pelo que criamos um jogo de bancos e árvores que consigam aglomerar grupos de pessoas: seja para estar no exterior, para “organizar” os grupos que vão visitar o parque, etc.

 

A entrada no Edifício faz-se pelo eixo central da linha que divide o Espaço Público do Edifício, à qual corresponde a vela mais alta. A ante-câmara tem um pé-direito máximo de 7,30m, depois está o átrio de entrada cujo pé-direito aumenta para 9,30m, de modo a criar um efeito surpresa aliado ao jogo de escalas. A distribuição do programa faz-se segundo um jogo de cheios e vazios, onde os cheios são espaços de serviço e apoio, e os vazios são espaços de estar ou de lazer. Os cheios reflectem-se em quatro caixas distribuídas ao longo do eixo longitudinal do edifício, rematadas por dois pólos nas extremidades.

O átrio, o primeiro vazio, está ladeado de duas caixas (cheios) cujos serviços estão associados à entrada no Edifício: bilheteira, sala de fornecedores, cacifos, instalações sanitárias femininas e masculinas, duas instalações sanitárias de acordo com as acessibilidades, balcão de informações e uma copa limpa que serve a cafetaria. Para o lado nascente desenvolve-se a cafetaria (vazio), copa suja, zona de tratamento de lixos e balneários de funcionários (cheios), rematados pela sala de eventos. Para o lado poente desenvolve-se a loja (vazio), arrumos da loja, enfermaria e sala de limpezas (cheio), rematados pelo centro pedagógico.

 

Entrando no edifício estamos “debaixo do mar”: as velas lançam-se sobre as caixas e o pavimento. Queremos aqui espoletar o contraste entre a cobertura x caixas, leveza x suporte. A luz é maioritariamente zenital, também ela complementar à ideia “debaixo do mar”.

As fachadas mantêm-se como velas que enfatizam a mutação das suas próprias formas consoante a luz do dia.

De forma a termos um espaço que conta uma história coerente, a cobertura é feita em betão com aplicação de altos e baixos relevos em cerâmica. Desta forma recria-se a textura de escamas, desenhando esgares de brilho, tal como nas velas.

LocalizaçãoCoimbra, Portugal
Tipo de ProjectoEquipamento cultural
Ano2016-...
Área de construção780 m2
ClienteFundação Bissaya Barreto
Visualização 3DOnstudio / Subvert Studio

ArquitecturaTiago Rebelo de Andrade
Marta Pinheiro de Almeida
Sofia Travassos
Beatriz Brinco
DesignDiogo Ramalho
Arquitectura PaisagistaGet Out, Arquitectura Paisagista
Projecto de EstruturasNewton, Consultores de Engenharia Lda
Projecto de Electricidade e Instalações MecânicasNewton, Consultores de Engenharia Lda
Projecto de Águas e EsgotosNewton, Consultores de Engenharia Lda
Projecto de ITED e Infraestruturas ITURNewton, Consultores de Engenharia Lda
Projecto de Segurança Contra IncêndiosNewton, Consultores de Engenharia Lda
Projecto de Arranjos ExterioresSubvert Studio / Get Out, Arquitectura Paisagista / Newton, Consultores de Engenharia Lda

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