Vila do Oeste

Vila do Oeste

Arquitectura, Cabo da Roca, Sintra, Portugal

Vila do Oeste, Cabo da Roca demarca logo a importância da localização neste projecto. “Onde a terra se acaba e o mar começa”, é um símbolo de uma ideia de comunidade que, privilegiando a exposição solar, associando à luz e pressagiando os dias solarengos, será tão próxima da natureza quanto possível.


Propomos um compromisso entre o sítio e a construção de uma identidade. Para tal demolimos os edifícios existentes, uns por terem uma linguagem dissonante com o sítio onde estão implantadas, outras por já estarem degradadas. Aquando da visita não sentimos que a construção actual resultasse num contributo para este território tão importante, tão marcado, tão expressivo e imerso em histórias que o elevam a um estatuto cultural. A nossa proposta quer ser uma nova circunstância neste sítio e anunciar uma nova linguagem.


Os limites do lote, apesar de desenhados, ultrapassam qualquer linha ou muro: temos a Oeste o Oceano Atlântico e estamos rodeados por espaços naturais do Parque Natural Sintra-Cascais. A localização e altitude do sítio ditam a importância de conhecermos o terreno, pois apesar de local e pequeno, tem abertura para o longínquo e infinito. Esta dicotomia de escalas e de ambientes que este local desenha já nos permite pensar num trabalho de valorização pela diferenciação de experiências que aqui conseguimos criar.


Na nossa proposta queremos regularizar e revitalizar o tecido urbano, o que nos fez procurar uma malha dentro daquela zona. Porém, a morfologia do terreno é muito óbvia: existe uma plataforma mais alta na entrada a Este que vai descendo paulatinamente até ao limite Oeste. Entre as duas malhas, entendemos que a do terreno e as linhas orientadores que este sugeria eram mais fortes. Ter o terreno como marco é uma premissa de identidade do projecto.


Contando com esta malha, temos algumas questões a resolver:

     • Como colocar 2100m2 de construção neste lote sem desvirtuar a envolvente, sem o tornar árido e “demasiado construído”, e manter a imagem bucólica e calma que tem actualmente?

     • Garantir afastamentos mínimos legais consoante a altura das fachadas;

     • Como garantir que estas casas não apanham ventos fortes? Que se tornam abrigadas?


Não pensámos nestas casas como apenas quatro paredes onde se passa o dia. Há vontade de aqui viver, mas também vontade para sair e usufruir dos espaços exteriores privados e comuns.


Desta forma, o conceito da casa constrói-se à volta da ideia de um pátio. A expressão “à volta da ideia” é colocada aqui da mesma forma que organizamos a casa, com os seus espaços à volta do pátio. Esta é a nossa ideia síntese, em que o todo reforça as partes: temos casas com implantações diferentes, mas todas têm o mesmo jogo base, as mesmas peças. O jogo entre as peças e a distância que elas criam entre si são os espaços intersticiais, que desenham uma imagem bucólica, pouco urbanizada. Este jogo, em planta, repete-se em altura pois a cozinha, os quartos, a sala e o pátio tem todos alturas diferentes entre si. Estas regras permitem criar uma identidade em que se ilude a escala da construção, pois resulta numa implantação dispersa. Esta ideia não passa de uma ilusão, pois a regra está lá, e foi sabiamente aplicada para descaracterizar qualquer sensação de “prédio”, “urbano” ou “desproporcional”.


A implantação de cada casa respeita a cota do terreno, pelo que há casas nas cotas 242.5, como na 241.5, na 240, na 238.5, entre outras.


A nossa proposta defende que a sustentabilidade passa por um conjunto de princípios que irão mapear a solução final: a avaliação cuidada do lugar, do terreno e da sua morfologia, a consideração da exposição solar, da implantação do edificado, do programa pretendido e da materialidade, entre outros.


Isto leva-nos a ter como tema importante a duração de um edifício e o seu correspondente ciclo de vida, cuja preocupação nos leva aos materiais a utilizar em construção.
A nossa aposta é, sempre que possível, privilegiar os materiais autóctones, os materiais cuja recolha e transporte minimizem os custos ambientais, os materiais tradicionalmente portugueses, sejam os de uso intemporal como os que a tecnologia actual suporta. Propomos como solução a construção em madeira sólida “CLT”. Esta, comparando com sistemas baseados em betão, reduz as emissões globais de carbono, como também é um sistema inovador com o qual já temos experiência de trabalho. É um sistema auto- portante, e pela sua facilidade de fabrico e agilidade de montagem tira meses ao tempo global de construção. Também oferece soluções de custo competitivo face a sistemas de construção tradicionais, sendo ainda três a quatro vezes mais rápido. Além disso, apresentam uma melhor resistência ao fogo e à acção sísmica, e melhores propriedades de isolamento acústico e térmico. Esta solução aliada ao nosso jogo modular e racional parece-nos uma resposta eficaz. 


Acreditamos que a proposta engloba forma, conteúdo, identidade. Resolve o tema programático e a operação urbanística para não elencar custos adicionais ao promotor, como também cria um diálogo com o local, transformando a herança do lugar,
do existente, com alusão ao futuro. É uma proposta assente na relação privilegiada entre comunidade e natureza. 


LocalizaçãoCabo da Roca, Sintra, Portugal
Tipo de ProjectoHabitação
Ano2021
Área2100 m2
ClienteSemapa

ArquitecturaTiago Rebelo de Andrade
Marta Pinheiro de Almeida
Beatriz Brinco
Design GráficoDiogo Ramalho
3DEduardo Queiroz
Arquitectura PaisagistaGet Out, Arquitectura Paisagista

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